24 de março de 2014

Uma passagem de Ensaio sobre a cegueira, de José Saramago

 Eu estou aqui para mostrar para vocês uma passagem que eu gostei muito de Ensaio sobre a cegueira e que me fez pensar um pouco sobre.

 "(...) Não estou cega, murmurou, e logo alarmada se soergueu na cama, podia tê-la ouvida a rapariga dos óculos escuros que ocupava o catre defronte. Dormia. Na cama ao lado, a que se encostava à parede, o rapazinho dormia também, Fez como eu, pensou a mulher do médico, deu-lhe o lugar mais protegido, bem fracas muralhas seríamos, só um pedra no meio do caminho, sem outra esperança que a de tropeçar nela o inimigo, inimigo, que inimigo, aqui ninguém nos virá atacar, podíamos ter roubado e assassinado lá fora que não nos viriam prender, nunca aquele que roubou um carro esteve tão seguro de sua liberdade, tão longe estamos do mundo que não tarda que comecemos a não saber quem somos, nem nos lembrámos sequer de dizer-nos como nos chamamos, e para quê, para que iriam servir-nos os nomes, nenhum cão reconhece outro cão, ou se lhe dá a conhecer, pelos nomes que lhes foram postos, é pelo cheiro que identifica e se dá a identificar, nós aqui somos como uma outra raça de cães, conhecemo-nos pelo ladrar, pelo falar, o resto, feições, cor dos olhos, da pele, do cabelo, não conta, é como se não existisse, eu ainda vejo, mas até quando. (...)" p.63-64.
 O que vocês pensam a respeito dessa passagem?

Nenhum comentário:

Postar um comentário